É muito comum em praticamente todas as academias
vermos pessoas realizando vários exercícios diferentes para a musculatura
abdominal, sob pretexto de que um para tal região e o outro para uma região
diferente, e aí vemos pessoas deitadas no chão levantando as pernas e achando
que estão esculpindo seu tronco.
Em primeiro lugar gostaria de esclarecer que o reto abdominal que tem origem
nas 5°, 6° e 7° costelas e inserção no púbis, se considerando que a origem é
sempre proximal e a inserção distal, é um único músculo!
Portanto, quando ele se encurta (contração isotônica concêntrica) ele se
contrai como um todo, não existe a possibilidade de se dividir o músculo em
“infra” e “supra” como alguns professores teimam em alardear por aí.
Imagine se seria possível contrair uma metade do bíceps em um exercício e a
outra metade em outro.
O exercício que tem o status de trabalhar o “infra-abdominal” onde em decúbito
dorsal (deitado de costas) o aluno realiza uma flexão de quadril (puxa as
pernas em direção do tronco) na verdade, a ação muscular desse movimento é
caracterizada por ação isotônica (com alteração no comprimento do ventre
muscular) dos músculos psoas ilíaco e reto femoral e com ação isométrica (sem
alteração no comprimento do ventre muscular) do reto abdominal, oblíquos
internos e externos.
Nesse momento alguns espertos poderão dizer que estou sendo discrepante e que o
exercício é para o abdômen, então esses espertos terão de admitir que a
extensão de cotovelo a partir de uma polia alta (tríceps pulley) é um exercício
em que se visa o abdômen, pois tanto no tríceps pulley quanto na flexão de
quadril “infra” o abdômen está se contraindo isometricamente. Em ambos os casos
os músculos abdominais agem como estabilizadores e não como motores do
movimento.
Outro ponto que merece relevância é o fato de que um músculo quando se contrai,
ele não sabe onde é origem nem inserção, não sabe onde teria de ser o ponto
fixo e o ponto móvel.
Isso é particularmente importante quando se trata do psoas ilíaco, pois ele tem
origem nas superfícies ântero-laterais de T12 a L5, ou seja, na coluna lombar e
inserção no pequeno trocanter, região proximal do fêmur. Portanto, quando
encurtado o psoas ilíaco puxa a coxa para cima (flexão de quadril) mas também
puxa a coluna lombar para frente, isso provavelmente não terá repercussão se
realizado com pouca ou nenhuma carga e com pouca freqüência, no entanto para
aqueles aficionados pelo abdômen que realizam treinamento exaustivo com muita
sobrecarga ou que estejam em período de crescimento, existe considerável
probabilidade de que se desenvolva uma hiperlordose e quadros de lombalgia, sem
falar na possibilidade de herniação de disco .
Portanto, se você quer realizar um bom trabalho para a região abdominal, faça
como os culturistas, a grande maioria realiza apenas a flexão de tronco contra
a gravidade, o velho e conhecido abdominal (aquele no chão mesmo e sem
aparelhos engraçados), se realizado com volume e intensidade adequada, não
precisará de mais nada. No entanto, se o seu professor teima em lhe passar
diversos exercícios para a região abdominal, dizendo que um é para isso e outro
para aquilo, provavelmente ele só está querendo parecer que entende muito, ou
então não sabe nada, ou o mais provável: os dois!
Texto escrito por José Vilar
Luiz Fernando Diniz Gomes
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